MUDANÇA ORTOGRÁFICA
A palavra ortografia resulta da combinação dos elementos de origem grega orto(correto) e grafia(escrita). Em
1500, a Carta de Caminha trazia a palavra hoje
grafada como “datada deste porto seguro davosa jlha da Vera cruz oje
sesta feira primeiro de mayo...”.Perceba
que, nesse momento, não existia uma padronização. O som de i podia ser representado graficamente
por i ou y.
O século 16 presenciou a chegada
do latim, o qual implementou o léxico
português. Passaram a ser valorizadas formas gráficas restauradas, com base no
latim, por exemplo, regno por reino.
Nascem, porém, aspectos negativos nesta ânsia de fazer a língua portuguesa
galgar o degrau de língua de cultura. Assim, a palavra tipogafia muda para typografia.
Foi a época da corrida por ch,ph,rh e th. Hoje, ainda se vê, com
freqüência (estou me despedindo do
trema), nomes,como, Raphael, Thaís,etc.
É somente com a chegada do
século 20 que assistiremos à preocupação com a proposta de
simplificação ortográfica. A primeira bandeira surgiu em 1904, com Gonçalves
Viana, segundo o qual dever-se-ia
suprimir os símbolos da etimologia
grega, como, th, ph, ck(=k), rh e
y.
Em 1915, a Academia Brasileira de Letras apressava-se para ajustar a
reforma brasileira à luz dos padrões da reforma portuguesa de 1911. Todavia, em
1919, por orientação do acadêmico Osório
Duque Estrada, o projeto de simplificação e a própria reforma foram
engavetados. A esperança voltará somente
em 1931 com o
novo acordo assinado entre Brasil e Portugal.
Consoante ao vaivém político e, simultaneamente, a
ausência de rigorosidade, a Constituição Brasileira de
1934, saudosa do passado,
determinou a volta do ph. O Brasil foi obrigado a reorganizar sua grafia de
acordo com a ortografia
da Constituição de 1891. Assim, o
vaivém ortográfico foi
prescrevendo e moldando
a vida do
letrado brasileiro.
O que há, entretanto, de novidade a
acrescentar é o reflexo
do “cansei”, isto é,
políticos e acadêmicos, por estarem descontentes com a
existência de duas ou mais grafias diferentes, voltam-se à busca de uma nova
reforma. O descontentamento seja talvez o receio de que para a palavra colégio
o paulista venha
grafar coléjo,
o carioca culégio
e o baiano
colégio e
você, leitor,....sabe Deus!
Ironia à parte, o fato é
que a partir
de 2009, o
Português deverá ter a
mesma ortografia em todo o mundo lusófono contanto que o acordo
entre Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo
Verde e Guiné-Bissau não seja
desconectado.
Engana-se quem acha
que tudo vai
bem entre os
acadêmicos. A atual
uniformização não deixa de ser
polêmica e aborrecedora para os defensores da
língua como patrimônio cultural. Senão vejamos:
“O acordo foi planejado para
uniformizar tanto quanto possível a grafia vigente em Portugal, no Brasil e nos
outros países da fala portuguesa. Por quê? Para que o português possa se tornar
Língua mais importante a ser adotado pela Unesco como oficial (...)Mas ninguém
deve se preocupar muito, porque as mudanças são quase insignificantes para os
brasileiros”(JOSUÉ MACHADO).
O gramático Evanildo Bechara
é sistematicamente contra
por considerá-lo imperfeito
e, sobretudo, parcial “deixa de resolver uma série de problemas,
como o uso do hífen e o das maiúsculas, entre
outros”.
Platão Savioli, gramático e coordenador do Curso Anglo, também
se volta contra
a timidez do
acordo e define-o
como “uma reforminha tímida, muito tímida, que não mexe
adequadamente no essencial”.
Maria Helena de Moura Neves,
autora de Gramática de Usos do Português e Guia de Uso do Português,
lamenta a ausência
de reforma ampla, pois “não fica garantida uniformização completa, e sem isso não se justifica
a mudança. Já tivemos a experiência de fazer dois acordos (1943 e 1945) e ficar
no desacordo (no Brasil valendo o de 1943; em Portugal, o de 1945”.
Assim sendo, a Reforma
Ortográfica de 2009 não é para
causar espanto, visto que há
poucas mudanças significativas. Teremos
de escrever “ideia”, “jiboia”, em vez
de idéia, clarabóia, com
a eliminação dos
ditongos ei e ou. Some, igualmente, o acento das palavras como “creem”, “veem”, “enjoo”, “voo”,
“feiura”, entre outros.
Em Portugal, desaparecem
o c e o p mudos,
como em “acção”, “adopção”, “baptismo”, “óptimo”
e, além do mais, escreverão “úmido” em vez
de “húmido”, o
que suscitou crítica
dos puristas como
a vez da
“brasilificação” do vocabulário
português.
Evidencia-se, porém, ganhos
de simplificação. Veja, pois,
os itens da
Mudança Ortográfica:
1- TREMA. Desaparece da maioria das palavras. Permanecerá em
nomes próprios e derivados.
Cuidado: você que
escrevia “eqüino” para designar cavalo
e “equino” para indicar
ouriço-do-mar não
leia apressadamente a
frase “os equinos são invertebrados”
2- HÍFEN. Cai quando
o segundo elemento
começa com s ou r.
Estas consoantes serão duplicadas.
Antes, você escrevia
anti-semita, agora, antissemita. Ainda há pouco, anti-religioso; daqui a pouco,
antirreligioso. Podemos abstrair a
regra de que o hífen cairá
quando a palavra
se referir a um
ser ou objeto
único, como, “mandachuva”.
Cai também
quando o prefixo
termina em vogal
e o segundo
elemento começa com uma
vogal diferente. É o caso de “extra” + “escolar” transforma-se
em extraescolar; “auto” +
“estrada” vira autoestrada.
Cuidado: o hífen é introduzido em “micro-ondas”
e em prefixos que
terminam em r: hiper,
inter e super.
3- DITONGOS EI E
OU. Deixam de
ser acentuados em
palavras, como, jiboia, geleia, feiura....
Cuidado: a mudança
é só gráfica,
não mudança de
pronúncia.
Pergunte ao seu
professor: por que
em “lençóis” a
acentuação prevalece?
4- ENCONTROS VOCÁLICOS OO E EE. Cai
o acento de
palavras como “creem”, “deem”, “veem”, “enjoo’, “voo” e
outras dessa natureza.
5- ACENTO DIFERENCIAL. Desaparece em “pára”(verbo)
de “para”(preposição);
“pélo”(verbo) de “pêlo”(substantivo) e de “pelo”(preposição);
“pêra”(substantivo) de “pêra”(preposição arcaica); “pólo”(substantivo) de “pólo”(combinação
de ´por´e ´lo´).
6- FORMAS VERBAIS. Cai
o acento em
6.1- “averigúe”
passa a averigue;
6.2- “apazigúe” passa
a apazigue;
6.3- “argúem” passa
a arguem.
7- ALFABETO. Passará a
ter 26 letras. Incorporar-se-ão K, W
E Y.
8- A PARTIR DE 2008, SEGUNDO A
CLP (COMUNIDADE DE PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA), AS MUDANÇAS COMEÇAM A
SER INCORPORADAS GRADUALMENTE NOS PAÍSES E, SOBRETUDO, ENTRE 2009 E 2010 OCORRERÁ O PERÍODO DE TRANSIÇÃO.
O que
se observa, por
conseguinte, é a fragilidade da mudança, cujo resultado é a tentativa de unificação
de um processo desunificado. Tão des-unificado
que até nossos alunos “contribuem” em
seus blogs para o
debate em torno
da ortografia. Visite seus
blogs e
perceba o k substituindo o qu (aki=aqui); o x
vale por ss (axim=assim) e (ateh= até)...É o
eterno retorno. É a
eterna mudança. Neste caso,
fica o dilema
de um professor
aflito: “se fosse para
escrever de qualquer
jeito, por que
o Estado e
outras instâncias, incluindo nossa família, gastaram
tanto com instrução”?.
Há, com certeza,
mais coisas entre
o céu e
a terra ou,
paradoxalmente, nada há
de novo debaixo
do sol.
Professor ERNALDICAS.
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