sábado, 20 de outubro de 2012

Acordo Ortográfico





MUDANÇA ORTOGRÁFICA

 

   A palavra ortografia resulta da combinação dos  elementos de origem grega orto(correto) e grafia(escrita). Em 1500, a Carta de Caminha trazia a palavra hoje grafada como “datada deste porto seguro davosa jlha da Vera cruz  oje sesta feira primeiro de mayo...”.Perceba  que, nesse momento, não existia uma padronização. O som  de  i podia ser representado graficamente por i ou y.

   O século 16  presenciou a chegada do latim, o qual  implementou o léxico português. Passaram a ser valorizadas formas gráficas restauradas, com base no latim, por exemplo, regno por reino. Nascem, porém, aspectos negativos nesta ânsia de fazer a língua portuguesa galgar o degrau de língua de cultura. Assim, a palavra tipogafia muda para typografia. Foi a época da corrida por  ch,ph,rh e th. Hoje, ainda se vê, com freqüência (estou me despedindo do trema), nomes,como, Raphael, Thaís,etc.

   É somente com a chegada do século 20  que  assistiremos à preocupação com a proposta de simplificação ortográfica. A primeira bandeira surgiu em 1904, com Gonçalves Viana, segundo o qual dever-se-ia suprimir os símbolos da etimologia  grega, como, th, ph, ck(=k), rh e y.

   Em 1915, a Academia Brasileira de Letras apressava-se para ajustar a reforma brasileira à luz dos padrões da reforma portuguesa de 1911. Todavia, em 1919, por orientação do acadêmico  Osório Duque Estrada, o projeto de simplificação e a própria reforma foram engavetados. A esperança voltará somente  em  1931 com  o  novo  acordo  assinado entre Brasil  e  Portugal.

   Consoante  ao  vaivém político e, simultaneamente, a ausência de rigorosidade,  a  Constituição Brasileira  de  1934, saudosa  do  passado,  determinou a  volta  do  ph. O Brasil  foi obrigado a reorganizar sua grafia  de  acordo  com  a  ortografia da  Constituição de 1891. Assim,  o  vaivém  ortográfico  foi  prescrevendo  e  moldando  a  vida  do  letrado  brasileiro.

   O  que  há, entretanto, de novidade  a  acrescentar é  o  reflexo  do  “cansei”, isto é, políticos  e  acadêmicos, por estarem descontentes com a existência de duas ou mais grafias diferentes, voltam-se à busca de uma nova reforma. O descontentamento seja talvez o receio de que para a palavra  colégio  o  paulista  venha  grafar  coléjo,  o  carioca  culégio  e  o  baiano  colégio  e  você, leitor,....sabe  Deus!

   Ironia à parte,  o  fato é  que  a  partir  de  2009,  o  Português  deverá  ter a  mesma ortografia em todo o mundo lusófono  contanto que o  acordo  entre Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau  não  seja  desconectado.

   Engana-se  quem  acha  que  tudo  vai  bem  entre  os  acadêmicos. A  atual uniformização  não deixa  de  ser polêmica  e  aborrecedora para os defensores da língua  como  patrimônio cultural. Senão  vejamos:

O  acordo foi planejado para uniformizar tanto quanto possível a grafia vigente em Portugal, no Brasil  e  nos outros países da fala portuguesa. Por quê? Para que o português possa se tornar Língua mais importante a ser adotado pela Unesco como oficial (...)Mas ninguém deve se preocupar muito, porque as mudanças são quase insignificantes para os brasileiros”(JOSUÉ MACHADO).

   O  gramático  Evanildo  Bechara  é  sistematicamente  contra  por  considerá-lo  imperfeito  e, sobretudo,  parcial “deixa de resolver uma série de problemas, como o uso do hífen e o das maiúsculas, entre  outros”.

   Platão Savioli,  gramático e coordenador do Curso Anglo,  também  se  volta  contra  a  timidez  do  acordo  e  define-o  como  uma  reforminha  tímida, muito tímida, que não mexe adequadamente  no  essencial”.

   Maria Helena de Moura Neves, autora de Gramática de Usos do Português e Guia de Uso do Português, lamenta  a  ausência  de  reforma  ampla, pois “não fica garantida uniformização completa, e sem isso não se justifica a mudança. Já tivemos a experiência de fazer dois acordos (1943 e 1945) e ficar no desacordo (no Brasil valendo o de 1943; em Portugal, o de 1945”.

   Assim sendo, a  Reforma Ortográfica de  2009  não  é  para  causar  espanto, visto que há poucas mudanças  significativas. Teremos de escrever  “ideia”, “jiboia”, em vez  de  idéia, clarabóia,  com  a  eliminação  dos  ditongos  ei  e  ou.  Some, igualmente, o acento das palavras como “creem”, “veem”, “enjoo”,  “voo”,  “feiura”,  entre outros.

   Em  Portugal,  desaparecem  o  c  e  o  p  mudos, como em  acção”, “adopção”, “baptismo”, “óptimo”  e, além do mais, escreverão “úmido”  em  vez  de  “húmido”,  o  que  suscitou  crítica  dos  puristas  como  a  vez  da  “brasilificação” do  vocabulário português.

   Evidencia-se, porém, ganhos  de  simplificação.  Veja, pois,  os  itens  da  Mudança Ortográfica:

 

1- TREMA. Desaparece da maioria das palavras. Permanecerá  em  nomes próprios  e  derivados.

Cuidado:  você  que  escrevia  “eqüino” para designar  cavalo  e  “equino” para  indicar  ouriço-do-mar   não  leia  apressadamente  a  frase “os  equinos são invertebrados”

 

2- HÍFEN.  Cai  quando  o  segundo  elemento  começa  com  s ou  r. Estas  consoantes serão duplicadas. Antes,  você  escrevia  anti-semita,  agora,  antissemita. Ainda há pouco,  anti-religioso; daqui a pouco, antirreligioso. Podemos  abstrair  a  regra de  que  o hífen cairá  quando  a  palavra  se referir  a  um  ser  ou  objeto  único,  como,  “mandachuva”.

Cai  também  quando  o  prefixo  termina  em  vogal  e  o  segundo  elemento  começa  com uma  vogal  diferente. É  o  caso  de  extra” +  “escolar”  transforma-se  em   extraescolar;  “auto” + “estrada”  vira  autoestrada.

Cuidado:  o  hífen é introduzido em  micro-ondas” e em  prefixos  que  terminam  em  r: hiper, inter e super.

 

3- DITONGOS   EI    E    OU.  Deixam  de  ser  acentuados  em  palavras,  como,  jiboia, geleia, feiura....

Cuidado:  a  mudança  é    gráfica,  não  mudança  de  pronúncia.

Pergunte  ao  seu  professor:  por  que  em  “lençóis”  a  acentuação  prevalece?

 

4- ENCONTROS  VOCÁLICOS   OO    E   EE.   Cai  o  acento  de  palavras  como  “creem”, “deem”, “veem”, “enjoo’, “voo”   e  outras  dessa  natureza.

 

5- ACENTO  DIFERENCIAL.  Desaparece   em   pára”(verbo)  de   “para”(preposição); “pélo”(verbo) de “pêlo”(substantivo) e de “pelo”(preposição); “pêra”(substantivo) de “pêra”(preposição arcaica); “pólo”(substantivo) de “pólo”(combinação de ´por´e  ´lo´).

 

6- FORMAS  VERBAIS.  Cai  o  acento  em

6.1-  “averigúe”  passa  a   averigue;

6.2- “apazigúe”  passa  a   apazigue;

6.3- “argúem”    passa   a   arguem.

 

7- ALFABETO.  Passará  a  ter  26  letras. Incorporar-se-ão  K,  W   E    Y.

 

8- A PARTIR DE 2008, SEGUNDO A  CLP (COMUNIDADE DE PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA), AS MUDANÇAS COMEÇAM A SER INCORPORADAS GRADUALMENTE NOS PAÍSES E, SOBRETUDO, ENTRE 2009 E 2010  OCORRERÁ O PERÍODO DE TRANSIÇÃO.

 

   O  que  se  observa,  por  conseguinte, é  a  fragilidade da  mudança, cujo resultado é a tentativa de unificação de um processo desunificado. Tão des-unificado  que até  nossos  alunos “contribuem”  em  seus  blogs  para  o  debate  em  torno  da  ortografia.  Visite seus  blogs  e  perceba  o  k substituindo  o qu (aki=aqui); o  x  vale  por  ss (axim=assim)  e  (ateh= até)...É  o  eterno  retorno. É  a  eterna  mudança. Neste  caso,  fica  o  dilema  de  um  professor  aflito: “se  fosse  para  escrever  de  qualquer  jeito,  por  que  o  Estado  e  outras  instâncias, incluindo  nossa família,  gastaram  tanto  com  instrução”?.  Há,  com  certeza,  mais  coisas  entre  o  céu  e  a  terra  ou,  paradoxalmente,  nada    de  novo  debaixo  do  sol.

Professor  ERNALDICAS.

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