quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Aula 1: INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

O ensino de interpretação de texto nas escolas ainda está apoiado em concepção fundacionista sobre texto e sobre ensino. Tal concepção acredita que o texto possua uma natureza específica e que a interpretação verdadeira envolva a tentativa de esclarecer de algum modo a essência textual. Defende ainda a noção de que exista uma intenção do texto. Ora, se continuarmos a valorizar postura ocultista sobre textos, é melhor transformar nossas aulas em seminários sobre Peirce e Semiótica, pois conforme a sugestão de U.Eco, seguidor de Peirce, "reconhecer a intentio operis é reconhecer uma estratégia semiótica".
Assim sendo, nossas aulas se limitam a apresentar CHAVES para que o aluno, diante do vestibular, penetre na essência do texto. Tais chaves recebem nomes, como, coerência, coesão, antíteses, ambigüidades, implícitos, anáforas, entre outros. O ocultismo é tão grande que o principal livro de interpretação de texto chama-se: "DESVENDANDO OS SEGREDOS DO TEXTO". Dessa forma, interpretar não é tarefa a qualquer mortal. É um milagre.
Ora, devemos desconfiar da idéia estruturalista de que saber mais sobre os "mecanismos textuais" represente o sucesso do aluno. O importante é conduzi-lo a perceber que ler textos é, sobretudo, uma questão de lê-los à luz de outros textos, pessoas ou informações; é o resultado de um confronto com um autor, personagem, estrofe ou verso. Esta aula sobre o texto usa o autor ou o texto não como busca à intentio operis, mas como ocasião para abandonar uma resposta anteriormente aceita, ou para dar um outro tom a uma história já contada. INTERPRETAR, não significa carregar chaves verdadeiras. INTERPRETAR É PENSAR.