“Viver em
sociedade: anseios e desafios” -
Aristóteles,
Hobbes e Rousseau. Afastados no
tempo, os três têm em comum a preocupação de refletir sobre o convívio social,
sobre meios para tornar menos conflituosa a vida em agrupamentos humanos. A
preocupação, pois, envolve o próprio homem. Seria ele o “animal cívico” de
Aristóteles? O “lobo do homem” de Hobbes? O “bom selvagem” de Rousseau?
1-
“Política”-
Aristóteles
(...) o homem é
um animal cívico, mais social do que as abelhas e os outros animais que vivem
juntos. A natureza, que nada faz em vão, concedeu apenas a ele o dom da palavra,
que não devemos confundir com os sons da voz. Estes são apenas a expressão
de sensações agradáveis ou desagradáveis, de que os outros animais são, como
nós, capazes. A natureza deu-lhes um órgão limitado a este único efeito; nós,
porém, temos a mais, senão o conhecimento desenvolvido, pelo menos o sentimento
obscuro do bem e do mal, do útil e do nocivo, do justo e do injusto, objetos
para a manifestação dos quais nos foi principalmente dado o órgão da fala. Este comércio da palavra é o laço de toda
sociedade doméstica e civil.
2
– “Leviatã”, Thomas Hobbes
(...) durante o tempo em que os
homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se
encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos
os homens contra todos os homens. Pois a guerra não consiste apenas na
batalha, ou no ato de lutar, mas naquele lapso de tempo durante o qual a
vontade de travar batalha é suficientemente conhecida. Portanto a noção de
tempo deve ser levada em conta quanto à natureza da guerra, do mesmo modo que
quanto à natureza do clima. Porque tal como a natureza do mau tempo não
consiste em dois ou três chuviscos, mas numa tendência para chover que dura
vários dias seguidos, assim também a natureza da guerra não consiste na luta
real, mas na conhecida disposição para tal, durante todo o tempo em que não há
garantia do contrário. Todo o tempo restante é de paz.( SEM UMA FORÇA EXTERNA
CAPAZ DE MANTER O RESPEITO MÚTUO, OS INDIV.
TENDEM AO CONFRONTO)
3 – “Discurso
sobre a origem da desigualdade”, Rousseau
Parece, à primeira vista, que os homens
nesse estado [de natureza], não tendo entre si nenhuma espécie de relação moral
nem de deveres conhecidos, não podiam ser bons nem maus, nem tinham vícios nem
virtudes (...). Não vamos, principalmente, concluir com Hobbes que, por não
ter nenhuma ideia de bondade, o homem seja naturalmente mau; que seja vicioso,
porque não conhece a virtude; que recuse sempre aos seus semelhantes serviços
que não acredita serem do seu dever; ou que, em virtude do direito que se
atribui com razão às coisas de que tem necessidade, imagine loucamente ser o
único proprietário de todo o universo. (...) Não creio ter contradição alguma que temer concedendo ao homem a única
virtude natural que o detrator mais extremado das virtudes humanas é
forçado a reconhecer. Refiro-me à piedade, disposição conveniente a seres tão
fracos e sujeitos a tantos males como nós; virtude tanto mais universal quanto
mais útil ao homem que precede nele ao uso de toda reflexão, e tão natural que
os próprios animais dão, às vezes, sinais sensíveis dela (...).
4 - Ódio revisitado - Eram apenas nove os
jovens negros selecionados pela direção do principal colégio da cidade, o
Central High School, para cumprir a ordem judicial de integração racial no
país. Segundo David Margolick, autor do recém-publicado Elizabeth and Hazel:
Two Women of Little Rock (ainda inédito no Brasil), a peneira foi cautelosa. A
busca se concentrou em colegiais que moravam perto da escola, tinham rendimento
acadêmico ótimo, eram fortes o bastante para sobreviver à provação, dóceis o
bastante para não chamar a atenção e estoicos o suficiente para não revidar a
agressões. Como conjunto, também deveria ser esquálido, para minimizar a objeção
dos 2 mil estudantes brancos que os afrontariam. HARAZIM, Dorrit, REVISTA
PIAUÍ.
5- Crimes de
ódio em redes sociais disparam no período eleitoral As discussões em redes
sociais sobre as eleições fizeram aumentar em 84% o número de denúncias de
crimes de ódio cometidos na web. As páginas incluem conteúdo relacionado a
racismo, homofobia, xenofobia, neonazismo e intolerância religiosa.
6- O Globo:
O que significa o ódio à democracia que
dá título ao livro?
Jacques Rancière: Quis analisar e
criticar uma tendência muito forte na França, cuja particularidade é tomar a
democracia não como forma de Estado, mas como forma de vida em sociedade. Este
ódio denuncia uma pretensa invasão da igualdade e do igualitarismo em todos os
domínios da vida e a relação com uma figura central: o indivíduo da sociedade
de consumo de massa, que o ódio à democracia acusa de ser destruidor de todos
os laços sociais tradicionais. O que esse ódio expressa é o ódio à igualdade, e
está acompanhado do recuo efetivo da democracia e da igualdade nesses Estados.
A democracia, no estrito senso desse termo, é o poder do povo, o poder de
qualquer um, dos que não estão destinados ao exercício do poder por nascimento,
riqueza, conhecimento científico ou qualquer qualidade especial. “Em novo livro, filósofo Jacques Rancière
analisa contradições do sistema representativo”.
7- Devemos repensar as
maneiras de superar o problema da desigualdade e da discriminação racial e de
gênero no Brasil, como formas de garantia dos Direitos Humanos e realização da
cidadania. Por esse prisma, Michael
Sandel, filósofo norte-americano, suscita debates, como, o que é uma sociedade
justa? Quanta desigualdade é consistente com uma sociedade justa? O que
nós, como cidadãos, devemos uns aos outros? E, especialmente: o que podemos
fazer juntos para que a democracia funcione melhor? Existem, para Sandel, três obstáculos no caminho da construção de
uma sociedade mais justa. O primeiro
deles é a corrupção. Sandel relembrou os
gastos com a Copa do Mundo e os cálculos de dinheiro público perdido para a
corrupção, que, no Brasil, chegariam a US$ 50 bilhões por ano, ou seja, 2% do
PIB do País. O segundo obstáculo é a
lacuna crescente entre ricos e pobres, especialmente agravada nos últimos 30
anos. E o terceiro é uma tendência
sutil de assumirmos valores de mercado em
nossas vidas. Para Sandel, não há resposta pacífica acerca disso, mas há outro desafio ético para se viver numa
sociedade justa, e ele está relacionado ao valor crescente do dinheiro em
nossas vidas. Há cada vez menos
coisas que o dinheiro não compra.
“Nas últimas três décadas, mudamos de uma economia de mercado para uma
sociedade de mercado, onde tudo está à venda e tudo tem um preço. Sandel afirmou que o mercado está controlando
as relações humanas, as vidas familiares, a educação, a saúde, a vida cívica, o
direito e a política. E que as pessoas deveriam ter consciência desse valor
maior que o mercado está ocupando em nossas vidas. No livro “O
que o dinheiro não compra” Sandel aponta que um dos efeitos nocivos da
corrupção é que ela corrói a confiança entre os cidadãos e dos cidadãos com
os funcionários públicos. Além disso, o senso de responsabilidade de uns com os
outros deve ser um dos pilares da democracia. “A lacuna entre os ricos e os pobres é grande demais, e isso pode
solapar o sentido de comunidade, de que estamos engajados num projeto comum.”
Assim, quando o dinheiro compra cada vez mais coisas boas na vida, as
pessoas abastadas vivem cada vez mais separadas daquelas que têm poucos
recursos. Antes, os lugares públicos eram os pontos de encontro de todos. As pessoas ricas, hoje em dia, ficam nos
camarotes. A democracia não exige igualdade perfeita, mas exige que pessoas de
formações, trajetórias e profissões diferentes se encontrem na vida do dia a
dia. É assim que vamos nos preocupar com o bem comum. A solução, de acordo com Sandel, é melhorar a política com um novo
espírito, uma disposição de se envolver em assuntos importantes como justiça,
igualdade, mercados e as obrigações mútuas de cada cidadão. As pessoas, dessa
forma, devem comprometer-se com convicções morais e espirituais, entrar em
desavenças e criar hábitos e atitudes cívicas que valham a pena, inclusive a
arte de ouvir, muito importante para a democracia.
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e
com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto
dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa
sobre o tema “Viver em sociedade:
anseios e desafios”. Selecione, organize e relacione, de forma coerente
e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.