Senhores e senhoritas,
ENEM: NA RETA.
As questões, ou situações-problema, diferentemente do que ocorre com as provas de vestibulares tradicionais, não são distribuídas por disciplinas. Elas formam um único bloco, evitando, assim o caráter cartesiano, fragmentado.
Dois eixos principais estruturam as situações-problema do exame: a interdisciplinaridade e a contextualização. Isto significa dizer que uma situação-problema dificilmente traz em si apenas o conteúdo de uma disciplina ou área específica. Vejamos:
Questão nº 49, ENEM – 1998.
Você está estudando o abolicionismo no Brasil e ficou perplexo ao ler o seguinte documento:
Texto 1
Discurso do deputado baiano Jerônimo Sodré Pereira - Brasil 1879
No dia 5 de março de 1979, o deputado baiano Jerônimo Sodré Pereira, discursando na Câmara,
afirmou que era preciso que o poder público olhasse para a condição de um milhão de brasileiros,
que jazem ainda no cativeiro. Nessa altura do discurso foi aparteado por um deputado que disse:
“BRASILEIROS, NÃO”.
Em seguida, você tomou conhecimento da existência do Projeto Axé (Bahia), nos seguintes termos:
Texto 2
Na língua africana lorubá, axé significa força mágica. Em Salvador, Bahia, o Projeto Axé conseguiu fazer, em apenas três anos, o que sucessivos governos não foram capazes:
a um custo dez vezes inferior ao de projetos governamentais, ajuda meninos e meninas de rua a construírem projetos de vida, transformando-os de pivetes em cidadãos.
A receita do Axé é simples: competência pedagógica, administração eficiente, respeito pelo menino, incentivo, formação e bons salários para educadores. Criado em 1991 pelo advogado e pedagogo italiano Cesare de Florio La Rocca, o Axé atende hoje a mais de duas mil crianças e adolescentes. A cultura afro, forte presença na Bahia, dá o tom de Projeto Erê (entidade
criança do candomblé), a parte cultural do Axé. Os meninos participam da banda mirim do Olodum, do Ilé Ayê e de outros blocos, jogam capoeira e têm um grupo de teatro.
Todas as atividades são remuneradas. Além da bolsa semanal, as crianças têm
alimentação, uniforme e vale-transporte.
49) Com a leitura dos dois textos você descobriu que a cidadania:
(A) jamais foi negada aos cativos e seus descendentes
(B) foi obtida pelos ex-escravos tão logo a abolição fora decretada
(C) não era incompatível com a escravidão
(D) ainda hoje continua incompleta para milhões de brasileiros
(E) consiste no direito de eleger deputados.
Essa questão bem poderia ser específica da disciplina de História do Brasil, mas, para chegar a sua resolução, mais uma vez o candidato não necessita obrigatoriamente de conhecimentos próprios de tal disciplina.
A situação-problema foi elaborada de forma que no processo de leitura dos dois textos apresentados, o participante poderia alcançar sem maiores problemas a resposta adequada.
O texto1, que faz parte do discurso de um deputado baiano de 1879, alude à condição de negros escravos, chamados pelo parlamentar de “um milhão de brasileiros, que jazem ainda no cativeiro”. O texto 2, por sua vez, informa sobre o Projeto Axé, na Bahia, as características e finalidades desse programa de assistência a crianças e adolescentes.
A partir da leitura dos textos, cobra-se do participante algo relacionado à cidadania no Brasil.
A partir da leitura dos textos, cobra-se do participante algo relacionado à cidadania no Brasil.
Em relação à alternativa D, segundo a qual a cidadania “ainda hoje continua incompleta para milhões de brasileiros”, o leitor, após a leitura dos textos, que possuem um confronto temporal (falam de séculos diferentes), poderá chegar à conclusão de que o Projeto Axé na Bahia é uma forma de resgatar a cidadania desses milhões de brasileiros cativos citados no texto que expõe o discurso do deputado baiano. Nesse caso, o leitor usa como estratégia a metacognição, fazendo uma comparação entre os dois textos, para perceber sua continuidade temática: a falta de cidadania a uma parcela significativa da população brasileira.
Até mais!