sexta-feira, 11 de julho de 2008

MACHADO DE ASSIS EXPLICA GILMAR MENDES!


Senhores e senhoritas,

As crônicas de Machado de Assis são carregadas de atualidades. Senão vejamos.
Crônica de 26 de novembro de 1893


"Tudo isto me cansa, tudo isto exaure. Este sol é o mesmo sol, debaixo do qual, segundo uma palavra antiga, nada existe que seja novo. A lua não é outra lua. O céu azul ou embruscado, as estrelas e as nuvens, o galo da madrugada, o burro que puxa o bonde, o bonde que leva a gente, a gente que fala ou cala, é tudo a mesma coisa. Lá vai um para a banca da advocacia, outro para o gabinete médico, este vende, aquele compra, aquele outro empresta, enquanto a chuva cai ou não cai, e o vento sopra ou não; mas sempre o mesmo vento e a mesma chuva. Tudo isto cansa, tudo isto exaure (...)"


Como vem a explicação?

Elementar, meu caro aluno!

Tudo isto me cansa! tudo isto me exaure.


Agora, veja:


-Daniel Dantas é levado à carceragem da PF

-Daniel Dantas é liberto da carceragem da PF

- Juiz manda prender

- Ministro manda soltar


TUDO ISTO ME CANSA. TUDO ISTO ME EXAURE.


Um ministro.... UM BURRO QUE PUXA O BONDE!


Voltemos a Machado de 1893:


"Tal era a reflexão que eu fazia comigo, quando me trouxeram os jornais. Que me diriam eles que não fosse velho?...Os próprios diários são decrépitos".

ATUALIZAÇÃO DE MACHADO DE ASSIS

SENHORES E SENHORITAS,

Vamos conversar com Machado!
A princípio, observemos o cotidiano do cronista!

Vejamos a crônica de 4 de julho de 1883, publicada na seção “Balas de Estalo”, em que o cronista elabora um conjunto de regras para os usuários dos bondes do Rio de Janeiro:
“O correu-me compor umas certas regras para uso dos que freqüentam bonds. O desenvolvimento que tem sido entre nós esse meio de locomoção, essencialmente democrático, exige que ele não seja deixado ao puro capricho dos passageiros. Não posso dar aqui mais do que alguns extratos do meu trabalho; basta saber que tem nada menos de setenta artigos. Vão apenas dez.
Art. I – Dos encatarroados
Os encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.
Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os encatarroados têm dois alvitres: - ou irem a pé, que é bom exercício, ou meterem na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.
Os encatarroados que estiverem nas extremidades dos bancos, devem escarrar para o lado da rua, em vez de fazerem no próprio Bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçônico, vocação, etc.,etc.
Art. II – Da posição das pernas
As pernas devem trazer-se de modo que não constranjam os passageiros do mesmo banco (...)
Art. III – Da leitura dos jornais
Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas dos vizinhos, nem levar-lhes os chapéus. Também não é bonito encostá-los no passageiro da frente.
Art. IV – Dos quebra-queixos
É permitido o uso dos quebra-queixos em duas circunstâncias: - a primeira quando não for ninguém no bond, e a segunda ao descer.
Art. V – Dos amoladores
Toda pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos, sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar o passageiro escolhido para uma tal confidência, se ele é assaz cristão e resignado. No caso afirmativo, perguntar-se-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los...
Art. VI – Dos perdigotos
Reserva-se o banco da frente para a emissão dos perdigotos, salvo nas ocasiões em que a chuva obriga a mudar a posição do banco. Também podem emitir-se na plataforma de trás, indo o passageiro ao pé do condutor, e a cara para a rua.
Art. VII – Das conversas
Quando duas pessoas, sentadas a distância, quiserem dizer alguma coisa em voz alta, terão cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras...
Art. VIII – Das pessoas com morrinha
As pessoas com morrinha podem participar dos bonds indiretamente: ficando na calçada, e vendo-os passar de um lado para outro. Será melhor que morem em rua por onde eles passem, porque então podem vê-los mesmo da janela.
Art. IX – Da passagem às senhoras
Quando alguma senhora entrar, o passageiro da ponta deve levantar-se e dar passagem, não só porque é incômodo para ele ficar sentado, apertando as pernas, como porque é uma grande má-criação.
Art. X – Do pagamento
Quando o passageiro estiver ao pé de um conhecido, e, ao vir o condutor receber as passagens, notar que o conhecido procura o dinheiro com certa vagareza ou dificuldade, deve imediatamente pagar por ele: é evidente que, se ele quisesse pagar, teria tirado o dinheiro mais depressa”140.

ULTRAPASSE A GRAMÁTICA DO BAIXO CLERO

Senhores e senhoritas,

Lembre-se de que não há anistia gramatical.

O desprezo à norma culta pode ser o caminho da exclusão.

Ler bons autores para dominar melhor as estruturas da língua é uma prática útil.

Dessa forma, veja:
1h por dia de:
- Graciliano Ramos;
- João Ubaldo Ribeiro;
- Luís Fernando Veríssimo;
- Machado de Assis;
- Millor Fernandes.

Agora, aproveite as férias!

A pomba e o menino

Outro dia, avistei um menino pálido, descalço, sem camisa e pernas finas, desses que vemos todos os dias no Brasil. Ao cruzar uma avenida movimentada e perigosa, dessas que ameaçam todos os passantes da rua, avistou uma pomba que ciscava à beira de uma árvore sem folhas, dessas que sofrem a consequência da crise ambiental.
De repente, tomou uma pedra e a lançou em direção à pomba; acertou-a; a asa esquerda pendeu ao chão. Ela ameaçou um vôo, mas tão somente conseguiu debater-se diante do enorme muro na sua frente. O muro sempre surge diante das dificuldades da vida. Se não fora a pedrada, a pomba não buscaria o muro. O muro, a pomba, a pedra, o menino, a morte, a vida, o barulho dos carros, a poluição, as buzinas, o muro, a pedra, o menino, a asa caída.
Um carro passou; outro, mais outro. O menino olhava o carro e a pomba; a pomba e o carro; a pedra e a pomba. Outra asa é atingida. O muro insensível, mostrava-se duro e longo; longo e duro é o martírio.
A pomba? arrastava-se sobre o pesado muro; asas arriadas, arcadas e caídas. O menino, a pequena distância. O perigo sempre se mostra a curta distância. Outra pedrada; erra o alvo; ainda há vida; a pomba se arrasta vagarosamente sob o olhar implacável do longo e teso muro.
Mais uma pedrada; acerta-a; outra; mais outra; outra mais. O alvo é prontamente atingido. Segue-se um minuto de observação metafísica...outra pedrada....outra....