quarta-feira, 21 de abril de 2010

TIRADENTES E MACHADO DE ASSIS







Senhores  e  senhoritas,
hoje é  feriado,  dia  de  leitura.  Então,

TIRADENTES E 21 DE ABRIL


Na quarta-feira, dia 21 de abril, acordei cedo, como de costume, bebi o café que eu mesmo preparei, e dei-me ao gosto de propor a mim mesmo uma reflexão. Tiradentes e a inconfidência. Esta palavra veio do latim confidentia, confiança. O prefixo in traz o sentido de negação, ato de trair. Outro termo, mais rude, suscita a sensação de dor, arrancar, puxar, tirar, esquartejar. Tudo pede certa elevação. É certo que vivemos a era das verdades esquartejadas, não menos certo, porém, é certeza de que cada uma de nossas verdades deve ter um mártir.

Machado de Assis, apesar do ceticismo, não economizou elogios a Tiradentes desde 1860, sobretudo na questão da inauguração da estátua equestre de d. Pedro I na praça do Rocio (agora praça Tiradentes), no Rio de Janeiro. Ora, no lugar onde o mártir fora enforcado, o governo imperial erguia uma estátua ao neto da rainha, responsável pela condenação do alferes. Na crônica de 1 DE ABRIL DE 1862, publicada no Diário do Rio de Janeiro, quando se comemorava a estátua, o cronista escrevia “Está inaugurada a estátua equestre do primeiro imperador. Os que a consideram como saldo de uma dívida nacional nadam hoje em júbilo e satisfação. Os que, inquirindo a história, negam a esse bronze o caráter de uma legítima memória, filha da vontade nacional e do dever da posteridade, esses reconhecem-se vencidos, e, como o filósofo antigo, querem apanhar mas serem ouvidos. O historiador futuro que quiser tirar dos debates da imprensa os elementos do seu estudo da história do império, há de vacilar sobre a expressão da memória que hoje domina a praça do Rocio.”

A crônica de 25 de abril de 1865, o cronista volta a se referir a Tiradentes “Os povos devem ter os seus santos. Aquele que os tem merece o respeito da história, e está armado para a batalha do futuro. Também o Brasil os tem e os venera; mas, para que a gratidão nacional assuma um caráter justo e solene, é preciso que não esqueça uns em proveito de outros; é preciso que todo aquele que tiver direito à santificação da história não se perca nas sombras da memória do povo. É uma grande data 7 de setembro. Mas a justiça e a gratidão pedem que, ao lado do dia 7 de setembro, se venere o dia 21 de abril. E quem se lembra do dia 21 de abril? Qual é a cerimônia, a manifestação pública? Entretanto, foi nesse dia que, por sentença acordada entre os da alçada, o carrasco enforcou no Rocio, junto à rua dos Ciganos, o patriota Joaquim José da Silva Xavier, alcunhado o Tiradentes.”

A última série de crônicas da vida de Machado de Assis, A Semana, teve início na semana seguinte ao “dia de Tiradentes”, ano do centenário da morte do inconfidente, 1892. Vejamo-lo “O instinto popular, de acordo com o exame da razão, fez da figura do alferes Xavier o principal dos Inconfidentes, e colocou os seus parceiros a meia ração de glória. Merecem, decerto, a nossa estima aqueles outros; eram patriotas. Mas o que se ofereceu a carregar com os pecados de Israel, o que chorou de alegria quando viu comutada a pena de morte dos seus companheiros, pena que só ia ser executada nele, o enforcado, o esquartejado, o decapitado, esse tem de receber o prêmio na proporção do martírio, e ganhar por todos, visto que pagou por todos.”

Em 1893, cronista volta a dar o tom sobre o mártir “Na sexta-feira, pelas seis horas da manhã, ouvi tiros de artilharia. Ou é a salva de Tiradentes, disse à família, ou é a revolução que venceu. Saí à rua; era a salva. Perguntei pelos mortos. Que mortos? Pelos acontecimentos. Que acontecimentos? Nada houvera; toda a cidade vivera em paz. Assim se desvaneceram os sustos, filhos de boatos, filhos da imaginação. Assim se desvaneçam todos os demais ovos do marido de La Fontaine. Só um fato se havia dado, como disse, o do coreto. Fui à praça ver os destroços, mas já não vi nada; achei a estátua e curiosos. Desandei, atravessei o largo de S. Francisco e desci pela rua do Ouvidor, ao encontro do préstito de Tiradentes. Soube que já não havia préstito. Era pena; esta cidade tem, para Tiradentes, não só a dívida geral da glorificação, como precursor da independência e mártir da liberdade, mas ainda a dívida particular do resgate.”

Enfim, o tempo urgia a findar tal reflexão; a manhã já me abandonava; ouvia o ruído dos automóveis; o movimento de nossa época, indiferente ao herói do passado. Lembrou-me Alcebíades que seguia Sócrates, sem capacidade e sem disposição para mudar sua vida, mas perturbado, enriquecido e cheio de amor. Algumas vidas são exemplares, outras não; e entre as vidas exemplares há as que nos convidam a imitá-las, e outras que miramos à distância com uma mistura de medo e reverência, do latim reverentia, originalmente designando temor respeitoso diante das coisas sagradas, mas hoje...




domingo, 11 de abril de 2010

AS POSSIBILIDADES DA NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA

Senhores  e  senhoritas,

Analisemos, neste  domingo,  as  possibilidades  da  nossa  Língua.







- O MODO DE DIZER DO POBRE E  DO  RICO!!



1- O rico é inconveniente, incômodo, cansativo

O pobre é chato, enchedor de saco, pentelho



2- Ricos trocam afagos

Pobres trocam amassos



3- O rico provoca uma desordem

O pobre faz uma bagunça



4- O rico agita o leque

O pobre sacode o abano



5- O rico lança por terra

O pobre joga no chão



6- O rico dá um desconto

O pobre tira uns trocados



7- O rico está deprimido

O pobre está capiongo



8- O rico está desalentado

O pobre está de crista caída



9- O rico fica deprimido

O pobre cai na fossa



10- Segredo de rico está oculto, abscôndito

Segredo de pobre está debaixo dos panos



11- Refeição de rico é comida

Refeição de pobre é gororoba



12- O rico tem cognome, pseudônimo

O pobre tem apelido, nome de guerra



13- O rico se rende

O pobre baixa a crista



14- O rico é delator

O pobre é dedo-duro



15- O rico vem em pessoa

O pobre vem em carne e osso



16- O rico supera a crise

O pobre sai do sufoco



17- O rico sai discretamente

O pobre sai de fininho



18- O rico arrisca

O pobre faz uma fezinha



19- O rico penhora a joia

O pobre bota a jóia no prego



20- O rico está debilitado em extremo

O pobre não aguenta uma gata pelo rabo



21- O rico se altera

O pobre fica puto



22- O rico investe com denodo

O pobre bota para quebrar



23- O rico tem suas economias

O pobre tem seu pé-de-meia



24- O rico é muito trabalhador

O pobre é pé-de-boi



25- O rico é polivalente

O pobre é pau para toda obra



26- O rico abandona os negócios

O pobre chuta o pau-da-barraca



27- O rico fica ancilosado

O pobre fica encaranguejado



28- Plano de rico falha, malogra

Plano de pobre vai para a cucuia, para o beleléu



29- O rico está inquieto

O pobre está com o diabo no couro



30- O rico é extravagante

O pobre é acavalado



31- O rico une-se em matrimônio

O pobre junta os trapos



32- O rico é acéfalo

O pobre é burro



33- O rico assume a defesa

O pobre compra a briga



34- O rico fica melancólico

O pobre fica jururu



35- O rico ataca

O pobre cai em cima



36- O rico fica retraído

O pobre fica encorujado



37- O rico é acriançado

O pobre é bocó



38- O rico é esquivo

O pobre é bicho-do-mato



39- O rico se enfurece

O pobre vira bicho



40- O rico dispensa

O pobre deixa para lá



41- O rico tolera, admite

O pobre deixa passar, deixa correr



42- O rico faz exclusão

O pobre deixa de fora



43- O rico dissimula

O pobre faz vista grossa



44- O rico faz ameaça

O pobre mostra os dentes



45- O rico volta depauperado

O pobre volta com a língua de fora



46- O rico deplora

O pobre abre o berreiro



47-O rico fica sem dinheiro

O pobre fica depenado



48- O rico está financeiramente liquidado

O pobre está pelado, está na dependura



49- O rico fica despido

O pobre fica pelado



50 - O rico muda de repente

O pobre muda do dia para a noite



51- O rico foge num instante

O pobre foge enquanto o diabo esfrega um olho



52- O rico conversa, dialoga

O pobre bate papo, leva um lero



53- O rico tem um desentendimento

O pobre tem um arranca -rabo, arranca -toco



54- O rico elimina a testemunha

O pobre queima o arquivo



55- O rico toma um drinque

O pobre toma uma truaca



56- Descanso de rico é repouso

Descanso de pobre é deforete



57- O rico é granfino, vaidoso

O pobre é metido a sebo, metido a besta



58-O rico é descontraído

O pobre é sebite



59- Pele de rico tem oleosidade

Pele de pobre tem sebo



60- Braço de rico tem axila

Braço de pobre tem sovaco



61- Suor de rico é transpiração

suor de pobre é sovaqueira



62- O rico ganha uma insignificância

O pobre ganha uma merreca



63- O rico fica indeciso

O pobre fica abestado



64-O rico trabalha

O pobre dá duro



65- Caldo de rico é consomê

Caldo de pobre é canja



66- O rico vacila

O pobre dá bobeira



67- O rico está inspirado

O pobre está com a cachorra



68- O rico é autista, esquizofrênico

O pobre é doido, pirado, abilolado



69- O rico é abstêmio

O pobre é careta



70- O rico é conservador

O pobre é quadrado



71- Bens antigos de rico são antiguidades

Bens antigos de pobre são velharias



72- Descuido de rico é abstração

Descuido de pobre é bobeira



73- O rico é loquaz

O pobre é falador



74- Rico que não paga é inadimplente

Pobre que não paga é  picareta



75- O rico é impotente

O pobre é brocha



76- O rico põe os olhos

O pobre mete as botucas



77-  O rico está desmotivado

O pobre está sem tesão



78- O rico está obstinado

O pobre é cabeça-dura



79- O rico sonha, fantasia, faz castelos

O pobre viaja na maionese, delira no ki-suco



80- O rico amola

O pobre enche o saco



81- O rico bajula

O pobre puxa o saco



82- O rico é inconveniente

O pobre dá no saco, pentelha



83- O rico fica aborrecido

O pobre fica de saco cheio



84-O rico é vilão

O pobre é 171


85- O rico tem rosto largo

O pobre tem cara de bolacha



86- O rico estimula os ânimos

O pobre bota lenha na fogueira



87- O rico confessa

O pobre solta a língua



88-O rico não diz o que pensa, o que sabe

O pobre fica na moita



89- O rico trai a mulher

O pobre bota chifre



90- O rico é traído

O pobre é chifrado



91- O rico faz um superesforço

O pobre corta um dobrado



92- O rico fala demais

O pobre fala pelos cotovelos



93- O rico tem rugas

O pobre tem pregas



94- O rico é contumaz

O pobre é cabeçudo



95- O rico é jactancioso

O pobre é papo-furado



96- O rico fica lívido, pálido

O pobre perde a cor



97- O rico fica ruborizado

O pobre muda de cor



98- Sobra de rico é resíduo

Sobra de pobre é resto



99- O rico está em situação relevante

O pobre está na crista da onda



100 -O rico está suspeitando de alguma coisa

O pobre está com a pulga atrás da orelha



101- O rico acelera

O pobre pisa fundo



102-O rico desorganiza-se

O pobre desgringola



103- O rico se deixa envolver

O pobre vai no arrastão, vai na onda



104- O rico faz grande sucesso

O pobre arrebenta a boca do balão



105- O rico pede arrego

O pobre pede o penico



106- O rico tenta aproximação amorosa

O pobre paquera, arrasta a asa



107- O rico enfeza-se

O pobre sai vendendo azeite



108- O rico é preparado

O pobre é cabeça feita



109- O rico deixa a casa desarrumada

O pobre deixa a casa de pernas para o alto



110- O rico é mal-acabado

O pobre é feito nas coxas



111- O rico fica violento, colérico

O pobre fica uma fera, uma arara



112- O  rico é avarento

O pobre é unha-de-fome



113- O rico diligencia

O pobre anda, vira, mexe



114- O rico é pouco inteligente

O pobre é uma anta, uma mula, um camelo

ENFIM,
A linguagem reflete o ambiente social em que um e outro se colocam. A presença de um termo em território que não lhe é próprio pode soar como fato estranho e desagradável.
 
Até mais!