segunda-feira, 29 de setembro de 2008

100 ANOS SEM MACHADO DE ASSIS




Vejamos a crônica de 4 de julho de 1883, publicada na seção “Balas de Estalo”, em que o cronista elabora um conjunto de regras para os usuários dos bondes do Rio de Janeiro:
“O correu-me compor umas certas regras para uso dos que freqüentam bonds. O desenvolvimento que tem sido entre nós esse meio de locomoção, essencialmente democrático, exige que ele não seja deixado ao puro capricho dos passageiros. Não posso dar aqui mais do que alguns extratos do meu trabalho; basta saber que tem nada menos de setenta artigos. Vão apenas dez.

Art. I – Dos encatarroados
Os encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.
Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os encatarroados têm dois alvitres: - ou irem a pé, que é bom exercício, ou meterem na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.
Os encatarroados que estiverem nas extremidades dos bancos, devem escarrar para o lado da rua, em vez de fazerem no próprio Bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçônico, vocação, etc.,etc.

Art. II – Da posição das pernas
As pernas devem trazer-se de modo que não constranjam os passageiros do mesmo banco (...)

Art. III – Da leitura dos jornais
Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas dos vizinhos, nem levar-lhes os chapéus. Também não é bonito encostá-los no passageiro da frente.

Art. IV – Dos quebra-queixos
É permitido o uso dos quebra-queixos em duas circunstâncias: - a primeira quando não for ninguém no bond, e a segunda ao descer.

Art. V – Dos amoladores
Toda pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos, sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar o passageiro escolhido para uma tal confidência, se ele é assaz cristão e resignado. No caso afirmativo, perguntar-se-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los...

Art. VI – Dos perdigotos
Reserva-se o banco da frente para a emissão dos perdigotos, salvo nas ocasiões em que a chuva obriga a mudar a posição do banco. Também podem emitir-se na plataforma de trás, indo o passageiro ao pé do condutor, e a cara para a rua.

Art. VII – Das conversas
Quando duas pessoas, sentadas a distância, quiserem dizer alguma coisa em voz alta, terão cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras...
Art. VIII – Das pessoas com morrinha
As pessoas com morrinha podem participar dos bonds indiretamente: ficando na calçada, e vendo-os passar de um lado para outro. Será melhor que morem em rua por onde eles passem, porque então podem vê-los mesmo da janela.

Art. IX – Da passagem às senhoras
Quando alguma senhora entrar, o passageiro da ponta deve levantar-se e dar passagem, não só porque é incômodo para ele ficar sentado, apertando as pernas, como porque é uma grande má-criação.

Art. X – Do pagamento
Quando o passageiro estiver ao pé de um conhecido, e, ao vir o condutor receber as passagens, notar que o conhecido procura o dinheiro com certa vagareza ou dificuldade, deve imediatamente pagar por ele: é evidente que, se ele quisesse pagar, teria tirado o dinheiro mais depressa”[1].
[1] Facioli, Valentim. Ob.cit. p.98

sábado, 27 de setembro de 2008

RECURSO ESTILÍSTICO DO ARTIGO



Senhores e senhoritas,


Como sabem, o artigo é uma palavra pequenina, de aparência quase insignificante, porém de grande valor expressivo. Senão vejamos.


I- Camões, grande sonetista português, morreu pobre.


II- Camões, o grande sonetista português, morreu pobre.


As duas frases possuem igual valor? Não.

O artigo, na segunda frase, possui o efeito de lançar sobre a expressão mais visualidade e mais familiaridade. É como se você dissesse: Camões, o grande poeta que nós todos conhecemos e estimamos, morreu pobre".


Vejam outro exemplo.


I- Ernaldicas ensina modernos processos de gramática.

II- Ernaldicas ensina os modernos processos de gramática.

Qual é o sentido de I e II?

Em I, queremos significar que Ernaldicas ensina alguns processos modernos de gramática. Em II, que ensina todos esses processos. No primeiro caso, a omissão do artigo conferiu à frase um sentido partitivo; já no outro, o emprego do artigo trouxe um sentido totalitário.


Vejam, abaixo, outros exemplos:

I- O HOMEM É CORRUPTO.

II- O HOMEM É NORMAL.

III- HOMEM NÃO É O MESMO QUE DIZER HERÓI NEM SANTO.


Em I, refiro-me a determinado indivíduo. Refiro-me ao homem especificamente.

Em II, veiculamos a referência ao homem como um todo: todos os homens são mortais.

Em III, ocorre ênfase a uma idéia qualitativa. Como se disséssemos: as fraquezas do homem nem sempre fazem dele um herói ou um santo.


Não se esqueça de que o Vestibular veiculou exercício cujo conteúdo versava sobre o texto "Ele é o homem/eu sou apenas uma mulher"

domingo, 21 de setembro de 2008

OS DEZ MANDAMENTOS REVISITADOS


Senhores e senhoritas,


É importante retomar o texto bíblico a fim de que entendamos o título. Em Êxodo,2-.1-17, encontramos o decálogo original: I- Não terás outros deuses diante de mim; II- Não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão; III- Lembra-te do dia do sábado, para santificar; IV- Honra a teu pai e a tua mãe; V-Não matarás; VI- Não cometerás adultério; VII-Não furtarás; VIII-Não dirás falso testemunho contra o teu próximo; IX-Não cobiçarás a casa do teu próximo;X - Não cobiçarás a mulher do teu próximo.


O título sugere que repensemos a expressão "Dez Mandamentos" a fim de que entendamos a marcha de nossa civilização. Torna-se necessário, pois, elaborar conduta de pensamento acerca de alguns temas que norteiam nossa era, entre eles, os recursos do planeta, o retorno do nacionalismo violento, o retorno de uma mentalidade etnocêntrica e, sobretudo, o conceito de "vizinhança".


Assim sendo, voltemo-nos ao decálogo para os nossos dias:


1. Conservarás o meio ambiente.

2. Não agredirás a Terra.

3. Não agredirás teu vizinho.

4. Não praticarás limpeza étnica.

5. Não usarás armas nucleares como método de força política.

6. Não esquecerás os crimes contra a humanidade do século 20.

7. Não colocarás o teu país acima das pessoas.

8. Não presumirás que tua comunidade ocupa o centro do universo.

9. Não presumirás que o Vestibular é a única saída.

10. Tratarás a todos como bons vizinhos.

domingo, 7 de setembro de 2008

A REDAÇÃO NA UNESP


Senhores e senhoritas,


A prova de redação da UNESP pretende avaliar, por meio da dissertação, a competência comunicativa do candidato. Vejam, a seguir, os critérios de correção aplicados pela Banca:


1) Linguagem: deve ser culta, revelando vocabulário diversificado.

2) Progressão temática: evitem a prolixidade, a repetição de idéias. Assim, se na tese ocorre a apresentação do assunto, cabe, pois, demonstrar, no desenvolvimento, argumentos que comprovem a pertinência da tese. A conclusão funcionará como um arremate das idéias apresentadas.

3) Coerência: as idéias selecionadas para compor o texto devem harmonizar-se entre si, complementando umas as outras. A falta de nexo ocorre quando não existe essa combinação.

4) Coesão - A harmonia e o equilíbrio do texto são garantidos através das relações estabelecidas entre as idéias e os parágrafos da dissertação.

5) Clareza - um texto confuso é produto de um raciocínio justamente confuso. As idéias devem ser dispostas de modo claro e organizado, a fim de que, numa única leitura, seja possível entender o texto.

6) Ortografia: exige-se obediência às regras gramaticais.


OBSERVEM, A SEGUIR, O COMENTÁRIO SOBRE A PROPOSTA DE REDAÇÃO DE 2007 A QUESTÃO DO IDOSO NO BRASIL.


Como nos anos anteriores, a Banca Examinadora ofereceu diversos textos ao aluno. Neles, o aluno deveria basear-se para adotar um posicionamento em relação ao "problema dos idosos".

Qualquer que fosse a tese, o vestibulando deveria reconhecer um surpreendente aumento da expectativa de vida no Brasil, país que, de acordo com especialistas, não estaria preparado para lidar com o envelhecimento de sua população por ser considerado tradicionalmente um "país jovem". Dessa forma, seria apropriado registrar o descaso - tanto das autoridades quanto da sociedade em geral - com o idoso, considerado ainda como um "obstáculo" - seja pelas inevitáveis limitações da velhice, seja pela falta de recursos financeiros.

Além de levar em conta o tratamento geralmente indigno dispensado a essa faixa etária, o aluno poderia mencionar algumas tentativas de mudança, refletidas em programs voltados para a "melhor idade" - um eufemismo simpático para classificar a "terceira idade". Caberia, contudo, questionar a eficácia de ações governamentais que não se fizessem acompanhar de uma mudança na maneira como cada um de nós, crianças, jovens e adultos, enxergamos os mais velhos.


TEMAS ANTERIORES:


- O BRASIL NO ESPAÇO: PRÓS E CONTRAS;

- O SENTIMENTO DO CIÚME EM NOSSAS RELAÇÕES;

- TERRA PARA TODOS: UTOPIA OU SONHO POSSÍVEL?

- NINGUÉM SERÁ SUBMETIDO A TORTURA NEM A PENAS OU TRATAMENTOS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES;

- O SISTEMA DE COTAS PARA NEGROS NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS;

- OS ESTRANGEIRISMOS NA LÍNGUA PORTUGUESA;

- A ESCOLA E A VIDA - O QUE É IMPORTANTE APRENDER;

- A VERDADE OU A MENTIRA: UMA QUESTÃO DE CONVENIÊNCIA?